Uma luva capaz de detectar resíduos de agrotóxicos em alimentos foi criada por cientistas da Universidade de São Paulo (USP). A peça de borracha sintética, equipada com sensores, surge como uma alternativa segura e barata aos processos convencionais de detecção dessas substâncias.
A luva possui três eletrodos distribuídos entre os dedos indicador, médio e anular, impressos por meio de uma técnica chamada serigrafia. A tinta, feita de carbono, permite a detecção de uma série de agrotóxicos utilizados no cultivo de grãos à cana-de-açúcar.
A luva pode detectar diferentes grupos de agrotóxicos
Para realizar a análise do alimento, ele precisa estar em contato com a água, que funciona como condutor entre as substâncias e os eletrodos. Basta tocar a superfície da amostra com qualquer um dos três dedos e a detecção começa.
O coautor do estudo, Sergio Antonio Spinola Machado, disse que não há nada parecido no mercado. Segundo ele, os métodos convencionais são caros e demoram mais para realizar a análise. “Eles fornecem informações analíticas rápidas, no local e de baixo custo”, acrescentou Machado.
Como a luva detecta pesticidas
Cada um dos três sensores é responsável por detectar uma classe diferente de agrotóxico e a amostra deve estar em meio aquoso. “Basta colocar uma gota no alimento e a solução estabelece contato entre ele e o sensor”, explica a coautora do estudo, Nathalia Gomes.
Primeiro, o dedo indicador é colocado na amostra, depois o dedo médio e depois o dedo anelar. A detecção é realizada em um minuto, mas o dedo anelar leva menos tempo. Segundo os pesquisadores, o sensor de anel usa uma técnica baseada em carbono funcionalizado.
Uma vez detectada a substância, as informações são transferidas para um software instalado no celular, onde ocorre a análise. O criador da luva, Paulo Augusto Raymundo-Pereira, explicou que, entre os diferenciais da invenção, está a capacidade de detecção seletiva. Ao contrário dos métodos convencionais, a luva permite que o processo seja realizado sem a necessidade de preparar amostras — que podem até ser consumidas após a análise.
A ferramenta não tem data de validade, mas os pesquisadores disseram, no entanto, que os sensores podem ser danificados por solventes como álcool e acetona, ou arranhados por outros objetos.
Alternativa barata
A luva inovadora está em processo de pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O produto se destaca porque, no mercado atual, não existe um procedimento simples para a detecção de diversos agrotóxicos.
A luva é uma alternativa barata e eficaz aos meios tradicionais existentes no mercado para detecção de agrotóxicos
Raymundo-Pereira destacou que representantes de agências internacionais já utilizam luvas para lidar com a entrada de alimentos nos países. “Imagine se eles tivessem um sistema de detecção de pesticidas embutido? Alimentos contendo agrotóxicos proibidos seriam descartados na fronteira”, disse.
O maior custo na produção são as próprias luvas, porque os sensores não custam mais de US$ 0,1. Segundo a equipe, a luva de nitrila é menos porosa que a de látex, mas com a pandemia o preço do material subiu muito. Ainda assim, o produto continua mais barato que os processos tradicionais.
Agência FAPESP